Francisco Juliano Junqueira Jupyra é o primeiro artesão de Caraguatatuba a receber a Carteira Nacional do(a) Mestre(a) Artesão(a) do Programa do Artesanato Brasileiro; ao usar a técnica do entalhe, tendo como matéria-prima a madeira de demolição. De família tradicional no município, Juliano Junqueira, mais conhecido por muitos na cidade e fora dela por Jupyra, deixa sua história e suas artes por onde passa. Caiçara e propagador da cultura regional; possui uma bagagem curricular nesse mundão de dar inveja. Com premiações e participações em eventos nacionais, internacionais, estaduais, e claro, municipais, que dariam várias e várias matérias. Mas tem uma entrevista que realizamos com o artesão sobre quando entrou no mundo da arte, concorrência desleal com revendedores de materiais da 25 de março, técnica, estilo e muito mais.
Jornal Massaguaçu – Quando começou a fazer arte e por qual motivo?
Jupyra – Eu me vi vivendo apenas do que eu produzia em 1996. Foi quando eu peguei a estrada e saí andando vendendo artesanato e fiz um tour. Foi pouco, mas intenso. O motivo principal foi a independência, ser dono do próprio nariz. Independente da área que você abrace é bom você seguir seu caminho. Tem gente que tem estômago para auxiliar outras pessoas ou ser terceirizado no setor, mas eu não dou conta de trabalhar pra ninguém. Prestar serviço sim, trabalhar para os outros eu percebi que não sou apto.
Jornal Massaguaçu – Como surgem suas inspirações? Você realiza estudos para se inspirar em novos trabalhos e técnicas?
Jupyra – Realizo estudos para novos trabalhos e técnicas. Já sobre as inspirações, digo que hoje ninguém inventa mais nada. São transformações. Hoje o feedback do mundo atual é interessante, é bem mais fácil de captar isso. É algo mais instantâneo. As técnicas para quem viver de arte sempre está aberta para conhecer um pouco mais e transformar a sua técnica, modelar e juntar um trabalho com o outro.
Jornal Massaguaçu – Como é o seu trabalho no entalhe de madeira hoje e como é esse mercado?
Jupyra – No meu trabalho de entalhe em madeira, a minha base é madeira de demolição ou madeira de serraria, ou seja, madeira autorizada, que você usa com o corte dela, que tem cara de tronco de árvore. E a de demolição você aproveita a qualidade da madeira e faz um bom uso para ela ter mais durabilidade. Caraguá perdeu muito dessa identidade litorânea de 67 pra cá. Logo depois da Catástrofe o município ficou mais com cara de cidade, capital, do que de interior. Mas tem acontecido nessa última década uma releitura, onde o comerciante e os membros da sociedade tem tido uma visão mais tradicional da nossa história, da nossa cultura, das nossas origens.
Jornal Massaguaçu – Como é viver de arte no Brasil (Caraguá)?
Jupyra – No Brasil em um modo geral é um país com muitos artistas. A valorização que é complicada. Isso porque a arte e o trabalho manual é colocada de parelha uma com a outra. Por exemplo, carpi um lote não deixa de ser uma arte, mas é diferente de você produzir arte pra vender, ou seja, você ter a técnica com estilo de uma forma comercial. Tanto no modo geral do país, quanto no município, podemos notar que tem melhorado um pouco, mas é menos valorizado do que em países de primeiro mundo.
Jornal Massaguaçu – Quais são os tesouros artísticos realizados na Oficina de Arte Sítio Estrela Azul?
Jupyra – (Risos) Você cutuca mesmo, legal. Já são quase três décadas de oficina. Eu não detenho uma técnica apenas, já passei e migrei de técnicas. Buscando a subsistência, você vai se moldando e vendo o melhor custo e a maior aceitação. Dentro de mim como artista, eu gosto muito do meu trabalho em metal, que é uma coisa mais poética e não tão comercial. Esses são os tesouros que eu tenho aqui na oficina, as peças ímpares em metal.
Jornal Massaguaçu – Hoje há uma concorrência desleal entre o artesão e o cara que se diz artesão, mas revende objetos comprados na 25 de março?
Jupyra – A concorrência desleal é terrível e há uma dificuldade do setor Público nisso. Por exemplo, as feiras de artes são públicas e você fica a mercê dos dirigentes. Não há um conhecimento geral e poucas vezes se dá uma liderança dentro do setor com olhos para analisar a classe do artista e do artesão. Está muito infiltrado e tudo está sendo colocado como subsistência, e não é assim. O artesão vive da arte, não sobrevive da arte. São palavras muito usadas, mas cada uma tem um peso diferente.
Jornal Massaguaçu – Como foi e está sendo viver do seu trabalho durante a pandemia?
Jupyra – Hoje estou em todas as redes, facebook, linkedin instagram, blog e por aí vai. Tive que me adaptar. Como todos os outros anos de vivência, você tem que estar atento e respeitar esse momento, mas não podemos esmorecer.
Jornal Massaguaçu – Qual conselho você daria aos artesãos da região e aqueles que querem ser artesãos?
Jupyra – Dê um polimento na sua técnica e crie seu estilo. A técnica está para todos. Todos nós podemos aprender qualquer técnica em qualquer setor, mas a partir do momento que você encontra a técnica que te satisfaz, a fluidez é melhor. Agora, para comercializar isso, aí você tem que ter uma vivência de venda, porque muitas vezes o que você acha interessante não é o que é vendável. Então, dentro da sua técnica e do estilo do trabalho que você executa, fique atento ao que o comércio aceita. Por isso a gente sempre coloca que o artesão pode ser o matuto, mas tem que aperfeiçoar; ter uma noção de empreendedorismo, através de pequenos cursos ou até mesmo sendo um autodidata.
Jornal Massaguaçu – Quais os prêmios e eventos nacionais que você levou o nome da Cidade para outros lugares?
Jupyra – Poxa, se eu começar a falar vai longe. Mas foram várias cidades no Estado de São Paulo e fora do Estado, tanto como representante do artesão no setor levando o nome da cidade em exposições, pegando menção honrosa, medalha de ouro ou segundo prêmio. E também representando em grupo a classe para outras cidades em eventos nacionais e internacionais, municipais, enfim, a bagagem é longa.
Jornal Massaguaçu – Tem alguma coisa que não perguntei que seria importante falar?
Jupyra – Eu propago para o indivíduo que compra meu trabalho que a arte e artesanato em qualquer lugar no mundo, compre de quem faz. O indivíduo sempre vai ter uma peça ímpar para entrar no seu acervo ou para presentear alguém. Essa atitude vai fazer com que o artesão não se corrompa e que o artesão se fortaleça na proposta que ele está executando.